segunda-feira, 8 de março de 2010

Thoughts

A vida ao sabor do vento
Henrique estava com os ombros apoiados na grade, de olhar circunspecto na direcção do rio a sentir o vento, enquanto esperava por Dora. 
Eh! - virou-se Henrique sobressaltado por um toque sentido no ombro que o acordou do seu transe.
- Olá - disse Dora, contente por ter conseguido assustar Henrique.
- Ah, és tu pregaste-me um susto. - ao dizer estas palavras Henrique levou as mãos ao peito para demonstrar a Dora que o seu coração estava aos saltos.
- Bah, para de ser um maricas e porta-te como um homem - sempre com um sorriso nos lábios - olha mas o que é que estás aqui a fazer ao vento?
- Pá é complicado explicar.
- Podes tentar não sou assim tão burrinha.
- Não é por causa disso...
- Então gostas de sentir o vento? - perguntou Dora com um ar curioso e esperançada de conseguir desvendar um pouco do mistério que é o Henrique. 
- Sim, porque sinto-me vazio, sou só eu e o vento e tudo o que me rodeia todos os meus problemas emoções desaparecem por um instante e são substituídas por outros, verdade que ainda não sei se sabes se vão ser boas ou mas sentes aquela sensação de frescura de limpeza de todo o peso antigo que se arrastava. - Discursava Henrique com um brilho nos olhos e convicção que era impossível não acreditar nele ou no mínimo sentir alguma empatia uma ligação com o seu discurso.
- Sim, tem alguma lógica todas as pessoas tem um escape - Respondeu Dora, com um ar pensativo de quem ainda estava a pensar no que o Henrique tinha dito e de que procurava uma resposta mais adequada.
- Sim e ainda tem mais - respondeu Henrique ao mesmo tempo que aproximava o dedo indicador dos lábios, agachando-se em direcção do rosto de Dora fingindo que olhava atentamente em todas as direcções. - Schiuuu, vou-te contar um segredo - ciciando a frase que ao longo do contar da história tornou ao tom normal, tudo narrado com um ar sério e brincalhão.
- Primeiro existem vários tipos de ventos. Basicamente existe quatro tipos de ventos , dois para cada estado, dois para o antes e outros dois para o depois.
- Ok, mas o queres dizer com o antes e depois? - perguntou Dora, com um sorriso nos lábios.
- Lembras-te de eu ter dito que após sentir o vento, por momentos ficava vazio? - pergunta Henrique, sabendo de antemão que ia receber uma resposta positiva.
- Sim!
- Vou-te explicar agora como funciona o processo.  - limpa a garganta, solta os braços como se estivesse a preparar-se para dirigir uma orquestra e decidido começa a sua explicação.
- Quando estás num estado pensativo, melancólico, e recebes os toques do vento como algo puro e vivo como se tu e o vento fossem um, sentes então uma sensação de liberdade, rebeldia, sentes que nunca vais estar só que vai haver sempre alguém que te perceba e oiça e nessa altura quanto estás abstraído de tudo e todos sussurras ao vento o teu eterno confessor o que  te vai na alma. 
- Sim - interrompeu Dora - era o que estava exactamente a pensar a bocado!
- É nessa altura - continuou Henrique entusiasmado pela compreensão de Dora - que podes ser invadido por dois tipos de ventos, ventos "varredores" que entram dentro de ti e varrem-te de todas as preocupações, arrelias, chatices, que te estavam a preocupar anteriormente, agora ou futuramente e há também os ventos traquinas que penetram dentro de ti mas roubam-te um pouco de uma boa emoção que tens escondida dentro de ti, uma paixão, alegria etc. Estes são os dois tipos de ventos que existem antes. Depois os ventos soltam-se do teu corpo com todas as emoções varridas ou roubadas no seu interior, por vezes saem fortes outras fracos, podem esbarrar em objectos e perder todas ou parte das emoções, podendo ainda juntarem-se vários ventos e criarem várias ventanias até mesmo furacões. Existem os ventos "contrários" carregados de más emoções que varreram para o seu interior, geralmente costumam sair fortes e descontrolados e assim felizmente a maioria esbarra contra as paredes e perdem todo o enfermo contido, só te conseguem invadir se estiveres carrancudo. Os outros ventos são os ventos"bondosos", costumam ser leves aragens que te tocam levemente no rosto e que muitas vezes as pessoas distraídas não lhes dão importância, não sentem a sua beleza e como podes já estar a adivinhar, só quem tem o espírito aberto é que recebe as paixões e alegrias que as aragens nela transportam.
- Hmm, mas como é que eu sei de quem é a paixão que deixei entrar? 
- Já alguma vez sentiste a aragem?
- Sim acho que sim e tu?
 - Bem, vamos embora antes que levemos com a ventania que ai vem.
- Sim, vamos.

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