Tinha vindo cá fora por uns momentos, disse ele «tomar um pouco de fresco». A expressão era encantadoramente estranha mas elucidava a sedentária vida de um escriturário. Nem desta personagem falaria se a sua boca não fosse a primeira a pronunciar o nome do homem que viria a ligar-se indissoluvelmente à memória daquele tempo. O tipo, além disso, meteu-me respeito. Sim; respeitei-lhe o colarinho, os grandes punhos, o cabelo bem penteando. Realmente tinha o ar de um manequim de cabeleireiro, e a enorme desmoralização da colónia não conseguia tirar-lhe o gosto pela boa aparência. Ora a isto chama-lhe personalidade. Os colarinhos engomados e os peitilhos tesos eram provas de grande carácter. Vivendo ali há perto de três anos, não evitei perguntar-lhe como podia alimentar o hábito de vestir roupa tão branca. Cheio de modéstia e com um rubor quase imperceptível respondeu: - «Ensinei uma das mulheres indígenas do posto. Foi difícil. Não mostrava o menor interesse pelo trabalho.» Aquele homem, todo dedicado aos livros e autor de uma escrita primorosa, realizara na verdade qualquer coisa.
Joseph Conrad - O coração das trevas
p.s - Viajar conhecer pessoas interessantes, Viajar sem conforto, viver o perigo, Viajar o tédio é meu inimigo; O que suspiro quando diariamente passo o tejo; Antigo país de navegadores, tornaram-se perdedores; afogados nas lágrimas do orgulho
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