Olhóóó diploma fresquinho, o próximo futuro do rapazinho!
Escutei, Pensei e Criei
Teatro como a vida é efémero.
A escassez leva a imaginação!
Vive-se em pleno a criacção
se ela for feita de estômago vazio,
a imaginação torna-se visceral.
Tal como a vida, a escassez de material
a torna mais verdadeira, mais crente
do que aquecida pelo metal do tostão frio.
Simpatizo com Grotwsky e o seu teatro pobre
concentrado no actor nobre,
não disfarça a pobreza do espectáculo com adereços
como alguns burros na vida a disfarçam
com apetrechos a altos preços.
Eu tenho dois amores
Eu tenho dois amores!
A poesia, com os versos faz-me viajar.
A prosa conselhos dá-me sobre que rumo tomar.
Nunca são dissabores!
p.s - para não me processares Marquito, aqui digo que as tuas músicas cantarolei, algumas tuas e a do josé malhoa «ponho 24 rosas numa jarra»
Mais um livro com alguns cantos dobrados acabei hoje, mais umas lições, mais umas conversas travadas, pensamentos trocados. Comportamento que muitos podem achar paranóico, mas estas conversas imaginadas são muito mais interessantes que muitas que eu tenho na vida real.
- Então estás bom?
- Sim e tu?
- Vai-se andando, também agora está sempre a chover.
- Sim, mas eu até gosto de levar com umas gotas de água na cara, assim uma vez por outra.
- Pois... - faz-se aquela incómoda pausa que tantos cigarros a vida já consumiu e muitos buracos na biqueira dos meus sapatos já abriu.
- Eu até podia meter conversa com este gajo, mas não me apetece falar sobre futebol, ainda por cima o gajo é do benfica e não me apetece dar uma de bicho social. penso nisto enquanto olho para a marcação do meu livro e as conversas que ainda me restam com ele.
Olha, vou ali trocar umas ideias com o O'Neill.
- Quem é? Não conheço.
- Ele é um tipo sincero, um gajo verdadeiro, directo que não gosta muito de merdices. Qualquer dia apresento-te. Até logo!
- Ah, até logo.
E agora uma dobra:
Uma arte do pormenor
ou um preâumbulo para os desatentos
No chamado consenso geral (ou público) uma das aparências que alienado ainda reveste é a de poeta. A lua, a própria lua mudou de carreira. Ontem o lugar-comum de deliquescências e de mistérios de pacotilha; hoje, biscoito para astronautas - a lua já ganhou o seu estatuto. Bem o merecia essa picada das bexigas, coitada! Quanto ao poeta, temos conversado...
Não é agora que principiamos a conversar.
Pode acontecer que o poeta se desacerte ao abotoar-se, diga «perdão!» quando é pisado por vocês, faça uma declaração de amor a um marco do correio, não saiba ganhar a (vossa) vida... Pode acontecer. Mas acautelai-vos: o poeta é um distraído terrivelmente atento. A sua distracção é pura economia. Apostado em caçar o essencial, o poeta resvala de olhos vagos pelo que já viu e reviu. Ele sabe que até morrer nunca mais terá tempo. Como quereis que perco o tempo que não tem - convosco? Ou melhor: com aquilo que, em vós, é mero ornato repetido até à náusea?
Que sois (muitos de vós) dolorosamente grotescos, que as vossas mulheres (venham as excepções!) não passam de «tristezas sobre pernas», que olhais uns para os outros com o ar de quem vê uma desalentada excrescência de si próprio, que os vossos filhos só garantem no pior dos casos, a sobrevivência da vossa espécie - tudo isso (e não é pouco!) o poeta já sabe e ressabe.
Já estou daqui a ver um senhor (há sempre «um senhor», pelo menos, que pode ver-se daqui»...) a levantar contra mim acusação de anarquizante ou passadista. Pois se ele até há poetas perfeitamente integrados numa vida normal! Desconfie, senhor, desconfie! Ou não são poetas ou integraram-se na vida «normal» para, distraidamente, o observarem a si...
Eu não sei quem inventou a graça de que Nicolau Tolentino foi um crítico amável dos costumes do seu tempo, mas o certo é que a graça corre. Provavelmente, achou esse inventor (que poder ser muita gente) que o Poeta devia ter ido mais longe nas suas críticas ou adoptado, nelas, uma atitude mais frontal.
Da amabilidade de Tolentino formamos, com certeza, conceitos diferentes, eu e o inventor da graça. Quanto ao dever ir mais longe, não sabemos que baliza o Poeta teria fixado para si mesmo, se é que fixou alguma - não é verdade? Apoucá-lo por atitudes menos frontais é ignorar o que significa ser um poeta faceto.
E aqui chegamos ao ponto essencial destas notas para desatentos...
Primeiro, avise-se quem for de avisar, que passados quase duzentos anos sobre o homem Tolentino, já é tempo de dar ao Poeta o pleno direito às suas contradições... (Ninguém se lembraria, hoje, de afirmar, por exemplo, que François Villon foi um grande poeta mau grado a prosaica circunstância de ter sido salteador de estradas...)
De «pedinchão» a fustigador «amável» dos costumes, Tolentino tudo aguenta. Deixem-no, pois, em paz - e leiam-no...
E leiam-no como dever ser lido: como consumado artista do pormenor concreto, que é assim que eu entendo Tolentino, o faceto.
Entre a anedota e o pormenor concreto, entre o fugaz e o típico, entre o que vale para o círculo-de-amigos e o que fala aos contemporâneos (e, por «vingança» no tempo, aos vindouros) que partido «tomou» Tolentino? Fácil teria sido quedar-se o Poeta na simples gazetilha dos sucessos do seu dia a dia. Pela rama é que se fala do bosque quando não se quer ver o bosque. Apertado por mesquinhas circunstâncias duma vida que ele parece ter desejado viver sob o estatuto da «normalidade», Nicolau bem podia haver (mal) optado pela tal amabilidade que lhe assacam os que de «brutalidade» não entendem mais que o palavrão ou agressão frontal. Mas Nicolau tinha as suas subtilezas, os seus vieses. Foi assim que soube preservar, no meio das insignificâncias dum quotidiano sem relevo, uma visão implacável e irónica da sociedade do seu tempo. Objectar-e-á que ele fez uma crítica movida de cima para baixo, uma crítica de galarim para a plateia, mas Honoré (de) Balzav - e abstraímos da salvação das devidas proporções - que teria feito? Se o ponto de vista donde a visão procede é importante, a objectividade da visão não é o menos.
À consciência da fugacidade do tempo, da transitoriedade de tudo, pode reagir-se de infinitas maneiras. A minha pessoal maneira de reagir (e peço perdão dela vir ao acaso) é a amarração ao efémero do tempo e do sítio em que, por insondáveis carambolas, me é dado a viver. Mas o efémero que representa o meu aqui-agora e que eu, muito humanamente, desejo fixar (com todas as suas - e minhas - contradições, opcções, lutas, etc.), tem o seu peculiar décor, os seus adereços, as suas típicas personagens, a sua acção, os seus dizeres. Se eu não me pormenorizar neles, ao mesmo tempo deles tomando distância mediante uma operação de sobrevivência chamada ironia, que testemunho darei a mim mesmo (a mim mesmo como consciência angustiada da efemeridade da minha vida) do tempo-sítio que é o meu para mim? Ora é precisamente esta consciência angustiada que eu julgo ver por detrás da pachorra tolentinesca e do seu culto do pormenor concreto. Não se trata de arqueologia, mas de poesia. A arte do pormenor, em Tolentino, se nos pode dar muitas indicações pitorescas sobre o quotidiano da época, dá-nos com certeza, muito mais, a cosmovisão do Poeta.
Não cabe nos limites do preâmbulo, nem nos da minha competência, explorar mais a fundo esta direcção. Nicolau Tolentino pede leitura-de-linha-e-entrelinha - ele que preferiu viver sob a capa de estatuto, que se integrou na vida «normal» para, distraidamente, nos observar a nós, como fomos e vamos sendo...
«Alienado» ou com estatuto de homem «normal». o verdadeiro poeta sabe, com o Mestre Tolentino, que:
«Não nasce homem para si.»
Prefácio a Obras de Nicolau Tolentino d'Almeida,
Estúdios Cor, Lisboa, 1968, pp IX-XXII.
Diálogos I
Com o esclarecido Henry Miller
longos serões teria,
o tema claro sobre mulheres seria,
ao qual mais tarde a nós se juntaria,
o já torto irreverente Charles Bukowski,
com mais uma garrafa de whisky
embrulhada debaixo do braço,
porque entre homens como nós o álcool nunca pode ser escasso.
As mulheres depressa se tornariam perversas,
só no fundo da garrafa já bebida
é que iríamos admitir que elas foram as nossas musas.
Eles iam-me obrigar, pela minha escrita jurar
que aquilo nunca dali sairia - «isto é se queres
mais alguma vez cá voltar!»
- Juro! Mas quem jura é quem mais mente.
- «Cabrão!» - responderiam os dois em uníssono
«- Ah, não faz mal esse amor na nossa escrita esta presente.»
- Sim um amor diferente, e quase sempre demente.
Mas falemos de outra coisa, antes que o álcool fique azedo,
e as nossas estridentes gargalhadas,
mudem de sintonia para valentes batatadas.
Achh... já chegou a fase em que não se sente o atropelo
do precioso e perigoso líquido amarelo.
Mais um copo e fico sem medo!
p.s - hmmmm
O miúdo endoideceu!!!
p.s - Hmm, eu sei que já postei isto, mas foi aqui ou no facebook, cucooo! (e também acho que falei que penso que deve ter sido daqui que o nome do Dexter foi retirado) E para os ouvidos menos atentos, o principio da música está misturada com o inicio da música do Lawrence da Arabia, outro alter-ego. Bem vou-me embora senão hoje não paro!
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