quarta-feira, 21 de maio de 2014

Thoughts

Hoje é dia de andar de 28, tenho que chegar a paragem uns 15 minutos antes, só assim posso escolher a melhor posição. Isto porque no 28 que chega às 09h15, transporta a todas as quartas-feiras, uma mulher com um livro de Boris Vian. Eu não sentia nenhuma atracção por ela,  posso dizer que ela era do tipo de mulher que passava despercebida no meio da multidão, o que me chamou a atenção nela foi o livro que ela estava a ler, e ainda por cima no seu início.

Sim, admito que é um comportamento fora do comum, e pode-se até dizer que tem algo de psicótico. Eu não gosto muito de regras rígidas, fazem ranger o meu cérebro, tolda a visão, como é que podes ter uma perspectiva diferente de um objecto quando és obrigado a admira-lo sempre da mesma forma. 

Dinheiro não lhe dou muita importância e tento gastar pouco, não sou sovina quando quero experimentar alguma novidade não me importo de gastar dinheiro. O meu hábito de ler livros dos outros nos transportes públicos,  tendo que recorrer ao planeamento de  estratégias para poder sentar-me ao pé de um vizinho com um bom livro nas mãos, é feito por outra razão que poupar no mísero soldo ganho. 

Gosto de ligar-me a desconhecidos sem que eles se apercebam, um laço partilhado unicamente por mim, muito melhor para para mim por não estar agrilhoado ao peso da amizade. Um egoísmo meu, mas que mantêm-me são. É que eu passo o dia a a conviver com sapos e a engolir uma cacofonia de sons emitidos pelas suas goelas. Liberto assim o vapor com a partilha de duas intimidades uma criada por mim e outra criada por outro solitário.

Outro hábito que desenvolvi foi o de levar livros que morriam nas prateleiras de meus conhecidos e por vezes de amigos, alguns sem nunca terem sido abertos, nunca ninguém dava pela falta do livro. Para prevenir que tal evento acontecesse, também delineei uma estratégia. Eu quando sabia que ia a casa de alguém trazia sempre comigo uma falsa encadernação com folhas preenchidas com letras por mim criadas, que colocava sempre no espaço que tinha ficado vazio. 

As histórias que eu deixava nos falsos livros, tinham como assunto as vidas que eu imaginava durante as minhas viagens nos transportes públicos. 


Coisas que podem acontecer:


  • alguém lê o livro, o que leva a aproximar-me de uma pessoa que ando a acompanhar no autocarro. Não a quero conhecer, embora me forcem a tal, ter medo de a conhecer e destruir o mundo perfeito já construído a sua volta. 
  • uma nova personagem anda a deixar-me bilhetes no bolso, a carteirista do meu coração, como ela assina os seus bilhetes. Luto para descobrir quem é, tenho dúvidas mas aproximo-me dela, vivemos algo intenso e rápido e nunca mais a vi, partiu de repente. Após a sua partida desliguei-me das pessoas do autocarro, agora compro livros e escrevo sobre a carteirista do meu coração.
  • o mundo era controlado por uma rede (distopia, tenho uma ideia por aí algures)  




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