quarta-feira, 21 de julho de 2010

Thoughts

Aventuras de um Marketeer
"I have no dream...."
- Telemóvel, telemóvel, onde é que eu pus a merda do telemóvel. Atrás do Portátil, não, talvez debaixo das minhas folhas dobradas, também não. Vá concentra-te no som. Ok, estou na divisão certa, claro só pode estar na mala.
Estouuuu. Era o Luís, queria saber se eu sempre ia ao festival ou não, expliquei-lhe a minha actual situação que tinha de arranjar disponibilidade laboral e financeira. Ah, sobre os sub-tópicos abordados nesta conversa telefónica:
  • Convencer-me ir ao festival: "Pá vais gastar o dinheiro em saídas no Bairro Alto, mais vale ires ao festival" - ao que eu respondi. Isso sei eu Bairro está lá o ano inteiro à minha espera, festival é só uma vez por ano. 
  • Apelar à minha condição masculina: "Aquilo vai estar cheio de gajas, mas tem cuidado com o cheiro a bacalhau" - claro que tive de responder à macho. Isso não me deve importar, quando chegar essa altura já devo estar bastante alcoolizado.
Desliguei telefone com a promessa de dar uma resposta para a semana. A minha cabeça começou logo a trabalhar - tenho de arranjar uma forma de conseguir obter as disponibilidades.
A laboral era a que menos me estava a preocupar. Afinal podia trocar e baltrocar dias de forma a conseguir os dias necessários, ou então inventar uma doença tropical.  Uma doença que tivesse como consequências um mal-estar, que não me deixou dormir nem comer nestes últimos dias.

– Que como podem ver deixou-me nesta figura, que aqui está na vossa frente, um cansado cabide de rosto pesado das olheiras negras e fundas e corpo completamente seco.
- Hmm...
- Sabem, umas das particularidades desta doença é causar uma pigmentação muito similar à causada pela exposição ao sol. Os médicos suspeitam das bananas importadas que tenho ingerido ultimamente.

Discurso ensaiado, com um bocado de sorte até podia ser que me enviassem para casa quando esperava que a inspecção geral de saúde fosse lá a casa e me levassem para um daqueles institutos modernos com piscina e tudo, com o objectivo de efectuar uma panóplia de testes no meu corpo enfermo.
 
Quanto à disponibilidade financeira, vários esquemas esbarram na minha linha de pensamento. Decidi adoptar o seguinte esquema: Venda na internet de esperma de cavalos premiados. Sim, claro que não tenho uma coudelaria ou porventura conheço alguém que trabalhe numa.



O passo essencial para a concretização do plano é a construção do site, no site vão estar expostos vários conteúdos. Os contéudos visuais, as fotos e vídeos, são tiradas de um acampamento de ciganos. O aspecto das pilecas não constitui grande problema, graças as novas tecnologias de edição e montagem, que permite “branquear os dentes” do cavalo mais decadente à face da terra.    

Uma funcionalidade chave do site é a possibilidade de ver o garanhão a cavalgar incessantemente na égua, esta zona ia estar o mais saturada possível de publicidade, afinal aposto que esta seria uma das zonas mais visitadas do site. Além do mais o consumidor habitual de pornografia já está habituado a ser bombardeado com publicidade. A publicidade exposta não é sobre outros sites porno ou stands automóveis, mas sim a vitaminas e outros suplementos para cavalos;  ao colocar os anúncios no AddWords algumas das palavras-chave escolhidas são: suplementos e suplementos ginásio. Com esta medida vou obter mais uma fonte de rendimento, proporcionada pelos seres humanos que frequentam ginásios  e tomam vitaminas de cavalo.

Criar nomes para os meus garanhões, qualquer coisa que soe a grego e associar prémios de competições inventadas. Claro que existiria fotos tiradas deste evento, desde aos prémios ganhos até às botas utilizadas pelo jóquei que ganhou a competição.
Tinha que gastar algum dinheiro nas novas ferramentas de comunicação como o addwords e facebook, versão em português e inglês, porque o meu mercado ia ser o mercado brasileiro e norte americano. "Não há garanhão melhor que o Azalão", "No better Stallion than Azalion".
Quanto ao método de recolha, contrataria uns jovens do leste para fazerem o trabalho sujo. Aposto que no final até ia haver clientes que iriam recomendar o esperma do Azalão para as éguas de alguns amigos e sei falar dos amigos dos outros cavalões.


Acho que vou enviar uma mensagem a confirmar a minha presença.


segunda-feira, 19 de julho de 2010

sábado, 17 de julho de 2010

Thoughts

Vejam bem. Irmãos mesmo, gémeos de verdade. Amigos mais dados não houve, na rua toda e em todas as ruas. Mas vá lá uma pessoa entender a danada da vida! Crescem e cada um com sua ideia, seu modo de pensar. Os doutores devem ter explicação, eu não sei. Filhos do mesmo pai, de igualíssima mãe, criados na sua casa, juntos na escola desde a primeira. E a dada altura, bumba, um alistando-se na Polícia, o outro começando a deitar os garfos. Mas amigos. No medo de encontrar o mano sacando carteiras, o guarda pede transferência para o rabo do mundo, lá para Algés. O irmão, que não senhor: fica tu, vou eu fanar longe. Porque torna, porque deixa, o agente pedindo pelas alminhas, desgraçado, meu irmão, muda de vida. Estava difícil. Então o polícia, para evitar vergonhas e mal-entendidos, vai à esquadra e desalista-se, entrega a farda. Gesto bonito. Mas quando soube o mano gatuno chorava de beber as lágrimas. Curou-se aí. E mais: havia concurso, apresenta-se na Polícia, lá não sabiam, fica apurado, fardinha e tudo. O outro contente de desatar aos saltos, torna à esquadra a dar o dito por não dito, estou de volta. Mas não. Quem sai, sai, passe muito bem. Andou o homem meses seguidos paisano e aos paus - olha um dia chateou-se e começou a gamar. Voltaram ao mesmo!
Agora digam honestamente: posso eu contar este triste enredo? Não posso. Nem faltaria menino a acusar-me de exagero ou aldrabice. E muito menos devo falar de outro acontecimento, esse, upa, upa, fiando ainda mais fino. Só para fazerem uma ideia: o caso do Gaita de Ouro.
Verdade: o homem apareceu de repente, sozinho, alugou a casa do Vitório Rapas, que abalara para Sacavém, e deu em espairecer na tasca. A tasca não era o Café-Bar Frequência, esse espavento, mas tasca mesmo: com pipas de vinho, mesas corridas, bancos de pau. O sujeito chegava e, com licença, sentava-se. O primeiro luxo descoberto foi a ourivesaria na boca: quatro dentes de ouro, quatro dentes no mínimo, houve quem contasse seis num dia em que se riu. Mas trazia um mistério: mesmo sentado o sujeito puxava e repuxava o casaco, cuidando em tapar ninguém entendia o quê. Lá tapar ia tapando, mas fosse o que fosse aguentava firme, virado para o tecto. Esquisito. Alguém topou e veio estranhar aos ouvidos gerais, toca a examinar, era exacto. Coisa curiosa se emproava, logo naquele sítio. Espalharam-se os segredinhos e risadas, c'os diabos, estaria o valente nesse estado mesmo sem senhora à vista? Demasiado. No outro dia o homem entra e todos os olhos  vão nesse caminho, a saber. Trazia samarra. Mas senta-se e bumba, vinha no mesmo preparo. Raios parta. A única explicação deu-a o Elísio Silva Bonito, dono da tasca, por sinal avô do João Bonito, o bombeiro. Disse ele: «Aquilo foi coisa de fractura puseram-lhe no gesso.» Ninguém se convenceu. E então uma noite em que o abonado, papo cheio de cerveja, saiu a aliviar-se ao pé da nespereira, vai um magote em pezinhos de lã, esconde-se à coca atrás da pocilga. Voltam como doidos, atropelando-se: «É de ouro! O gajo tem gaita em ouro!»
Fantástico! E nem devia pôr-se em dúvida, testemunhas eram seis, uma das quais conhecedora, António Vaizinho, empregado de joalharia , que adiantou avaliação: «Dezoito quilates!»
O mau foi pastar por aí gado de fora, malandragem. Levaram a noite empifando o homem, guiaram-no a casa com uma cardina de dobrar as pernas. As pernas sim, o resto em sentido. Está à vista o triste fim: miseravelmente, roubaram-no, fugiram-lhe com a gaita, que era de desatarrachar.
Voltou à tasca uns dias mais tarde, enfiado, desgostoso de meter pena, mas caramba!, lá estava outra vez de mastro altivo vencendo as cautelas do casaco. Só que esse, soube-se mais tarde, já era de plástico.
Mário Zambujal em Histórias do fim da rua


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