segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Thoughts

Corte Poético



Arte Poética
Entre sombra y espacio, entre guarniciones y doncellas,
dotado de corazón singular y sueños funestos,
precipitadamente pálido, marchito en la frente, 
y con luto de viudo furioso por cada día de vida,
ay, para cada agua invisible que bebo soñolientamente,
y de todo sonido que acojo temblando,
tengo la misma sed ausente y la misma fiebre fria,
un oído que nace, una angustia indirecta,
como sí llegaram ladrones o fantasmas, 
y en una cáscara de extension fija y profunda,
como un camarero humillado, como una campana un poco ronca,
como un espejo viejo, como un olor de casa sola
en la que los huéspedes entran de noche perdidamente ebrios,
y hay un olor de ropa tirada al suelo, y una ausencia de flores,
posibellmente de otro modo aún menos melancólico,
pero, la verdad, de pronto, el viento que azota mi pecho,
las noches de substancia infinita caídas en mi dormitorio,
el ruido de un día que arde con sacrificio,
me piden lo profético que hay en mí, con melancolia,
y un golpe de objetos que llaman sin ser respondidos
hay, y un movimiento sin tregua, y un nombre confuso.



Entre sombra e espaço, entre guarnições e donzelas,
com um coração singular e fatídicos sonhos,
precipitadamente pálido, envelhecida a fronte
e com um luto de viúvo furioso por cada dia de vida,
para cada água invisível que sonolento bebo, 
e de todo o ruído que recebo a tremer,
tenho a mesma sede ausente e a mesma sede fria,
um ouvido que nasce, uma angústia indirecta,
como se chegassem fantasmas ou ladrões,
e numa casca de extensão fixa e profunda,
como um servo humilhado, como um sino roufenho,
como um espelho velho, como um odor de casa solitária
onde os hóspedes entram de noite perdidamente bêbedos,
e há um odor de roupa atirada ao chão e uma ausência de flores
- possivelmente de outro modo ainda menos melancólico - 
mas, na verdade, de súbito, o vento que me açoita o peito,
as noites de substância infinita caídas no meu quarto,
o rumor de um dia que arde com sacrifício,
pedem-me o profético que há em mim, com melancolia,
e um golpe de objectos que chamam sem ter resposta
há, e um movimento sem tréguas e um nome confuso.

Pablo Neruda - Residência na terra.

Sem comentários:

Enviar um comentário