segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Bipole!!!

Gostas de ananás?

poster


Trailers; tão épico, tão épico que até tem a épica trovejante voz off! Muitos épicos :)





cenas, banda sonora, músicas com cenas do filme...



Disorder!!!


posters


trailer


opening


Oh, I'm so silly


 A sonoplastia  - tão inteligente que o menino é.


 Porque hoje em dia só não cria quem não quer, pelo menos quem vive num país "civilizado". 

domingo, 29 de agosto de 2010

Thoughts

Alienado tempo, culturalmente
Conversa com um espanhol:
... y más aún!
- Toy story?
- No, Pablo Neruda...

A pensar num fundo

  
E agora algo diferente:


Ritual de minhas pernas

Muito tempo permaneci a olhar as minhas longas pernas
com ternura infinita e curiosa, com a minha paixão habitual,
como se tivessem sido as pernas de uma mulher divina
profundamente sumida no abismo do meu tórax:
e é que, na verdade, quando o tempo, o tempo passa,
sobre a terra, sobre o tecto, sobre minha cabeça impura,
e passa, o tempo passa, e em minha cama não sinto de noite que 
uma mulher respira, a dormir, nua e a meu lado,
então, estranhas, escuras coisas tomam o lugar da ausente,
viciosos, melancólicos pensamentos
espalham pesadas possibilidades no meu quarto,
e assim, pois, olho minhas pernas como se pertencessem a outro
                                                                                                corpo,
e forte e docemente estivessem coladas às minhas entranhas.
Como caules ou femininas, adoráveis coisas,
dos joelhos elas sobem, cilíndricas e espessas,
com perturbado e compacto material de existência:
como brutais, grossos braços de uma deusa,
como árvores monstruosamente vestidas de seres humanos,
como fatais, imensos lábios sedentos e tranquilos,
são ali a melhor parte do meu corpo:
o inteiramente substancial, sem um complicado conteúdo
de sentidos ou traqueias ou intestinos ou gânglios:
nada, a não ser o puro, o doce e espesso da minha própria vida,
nada, a não ser a forma e o volume existindo,
guardando a vida, contundo, de um modo completo.

As pessoas atravessam o mundo na actualidade
quase sem se lembrar que possuem um corpo e nele a vida,
e há medo, há medo no mundo das palavras que designam o
                                                                                                corpo,
e fala-se favoravelmente da roupa,
de calças pode falar-se, de fatos,
e de roupa interior de mulher (de meias e ligas «de senhora»),
como se pelas ruas andassem as peças e os fatos completamente 
                                                                                                         vazios
e um escuro e obsceno guarda-fatos ocupasse o mundo.

Têm existência os fatos, cor, forma, desígnio,
e um profundo lugar em nossos mitos, demasiado lugar,
demasiados móveis e demasiados quartos há no mundo,
e o meu corpo vive entre e sob tantas coisas abatido,
com um pensamento fixo de escravidão e de cadeias.

Bem meus joelhos, como nós,
particulares, funcionários, evidentes,
separam as metades de minhas pernas em forma seca:
e na realidade dois mundos diferentes, dois sexos diferentes,
não são tão diferentes como as duas metades de minhas pernas.

Do joelho até ao pé uma forma dura,
mineral, friamente útil aparece,
uma criatura de ossos e persistência,
e os tornozelos não são já senão o propósito nu,
a exactidão e o necessário dispostos para sempre.

Sem sensualidade, curtas e duras, masculinas,
são ali as minhas pernas, e dotadas
de grupos musculares como animais complementares,
e ali também uma vida, uma sólida, subtil, aguda vida
sem tremer permanece, aguardando e actuando.

Em meus pés coceguentos,
e duros como o sol e abertos como flores,
e perpétuos, magníficos soldados
na guerra gris do espaço,
tudo termina, a vida termina definitivamente em meus pés,
o estrangeiro e o hostil começa ali,
os nomes do mundo, o fronteiriço e o distante,
o substantivo e o adjectivo que não cabem no meu coração,
com densa e fria constância originam-se ali.

Sempre,
produtos manufacturados, meias, sapatos,
ou simplesmente ar infinito,
haverá entre meus pés e a terra
a demarcar o isolado e o solitário do meu ser,
algo firmemente suposto entre a minha vida e a terra,
algo abertamente invencível e inimigo. 

Pablo Neruda - Residência na terra


As tuas pernas são diferentes,
tens um caminhar anormal.
- Os caminhos que existem,
para mim são anormais.
 

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Bipole!!!

Posters o segundo é do Jan Lenica.



A cena final

É impossível não gostar desta mulher, grande Giulieta Masina!



Le bande annonce

Disorder!!!

O poster




A cena final



Lilith o segredo está no nome.




Se por acaso não encontrar a música, queira por favor colocar o trailer, muito obrigado.  

Thoughts

Corte Poético



Arte Poética
Entre sombra y espacio, entre guarniciones y doncellas,
dotado de corazón singular y sueños funestos,
precipitadamente pálido, marchito en la frente, 
y con luto de viudo furioso por cada día de vida,
ay, para cada agua invisible que bebo soñolientamente,
y de todo sonido que acojo temblando,
tengo la misma sed ausente y la misma fiebre fria,
un oído que nace, una angustia indirecta,
como sí llegaram ladrones o fantasmas, 
y en una cáscara de extension fija y profunda,
como un camarero humillado, como una campana un poco ronca,
como un espejo viejo, como un olor de casa sola
en la que los huéspedes entran de noche perdidamente ebrios,
y hay un olor de ropa tirada al suelo, y una ausencia de flores,
posibellmente de otro modo aún menos melancólico,
pero, la verdad, de pronto, el viento que azota mi pecho,
las noches de substancia infinita caídas en mi dormitorio,
el ruido de un día que arde con sacrificio,
me piden lo profético que hay en mí, con melancolia,
y un golpe de objetos que llaman sin ser respondidos
hay, y un movimiento sin tregua, y un nombre confuso.



Entre sombra e espaço, entre guarnições e donzelas,
com um coração singular e fatídicos sonhos,
precipitadamente pálido, envelhecida a fronte
e com um luto de viúvo furioso por cada dia de vida,
para cada água invisível que sonolento bebo, 
e de todo o ruído que recebo a tremer,
tenho a mesma sede ausente e a mesma sede fria,
um ouvido que nasce, uma angústia indirecta,
como se chegassem fantasmas ou ladrões,
e numa casca de extensão fixa e profunda,
como um servo humilhado, como um sino roufenho,
como um espelho velho, como um odor de casa solitária
onde os hóspedes entram de noite perdidamente bêbedos,
e há um odor de roupa atirada ao chão e uma ausência de flores
- possivelmente de outro modo ainda menos melancólico - 
mas, na verdade, de súbito, o vento que me açoita o peito,
as noites de substância infinita caídas no meu quarto,
o rumor de um dia que arde com sacrifício,
pedem-me o profético que há em mim, com melancolia,
e um golpe de objectos que chamam sem ter resposta
há, e um movimento sem tréguas e um nome confuso.

Pablo Neruda - Residência na terra.

domingo, 22 de agosto de 2010

Bipole!!!

Tirania

Oh dama sin corazón, hija del cielo,                                                     
auxíliame en esta solitaria hora,
con tu directa indiferencia de arma
y tu frío sentido del olvido.

Un tiempo total como un océano,
una herida confusa como un nuevo ser,
abarcan la tenaz raíz de mi alma
mordiendo el centro de mi seguridad.


Qué espeso latido se cimbra en mi corazón
como una ola hecha de todas olas,
y mi desesperada cabeza se levanta
en un esfuerzo de salto y de muerte.


Hay algo enemigo temblando en mi certidumbre,
creciendo en el mismo orign de las lágrimas,
como una planta desgarradora y dura
hecha de encadenadas hojas amargas.



Tradução:
Oh dama sem coração, filha do céu,
auxilia-me nesta hora solitária,
com tua indirecta indiferença de arma
e teu frio sentido do esquecimento.


Um tempo total como um oceano,
uma ferida confusa como um novo ser,
cingem a firme raiz de minha alma
mordendo o centro da minha segurança.


Que espessa pulsação se dobra em meu coração
como uma onda feita de todas as ondas,
e minha desesperada cabeça levanta-se
num esforço de salto e de morte.


Há uma coisa inimiga a tremer em minha certeza,
a crescer na própria origem das lágrimas,
como uma planta dilacerante e dura
feita de acorrentadas folhas amargas.

Pablo Neruda - Residência na Terra; editora: Relógio de Água.

p.s - Poetas "Cavaleiros do Apocalipse"
Alertam, fazem-nos imaginar imagens. :)

O poeta reflecte a sociedade
não é a sociedade que reflecte o poeta .
São seres independentes
com uma visão só deles.
 

Disorder!!!

Num pranto de esperanças,
Recorre-se ao firmamento,
Flutua-se nessas ondas de algodão,
Enrolam-se os pensamentos no vento,
Sucumbe-se nas gotas de orvalho,
Rodopia-se intensamente num voo só.
É assim ser poeta do tempo,
Poeta de palavras doces,
Cingidas pelas marcas do destino fatal.
Imobilizando este corpo cansado,
Procura-se um chão, ou talvez um vale,
Ao longe vê-se as areias que sopram numa tempestade desmedida,
Num beijo tocado pelo vento, respirando esse ar que alimenta,
Partimos á descoberta de um ser inevitavelmente imenso,
Imenso em emoções, imenso de um só sentir,
Esboço de um poeta…
Renata Pereira Correia


p.s - Poetas "pequenos póneis"
Repetem palavras mastigadas, gastas pelos arco-íris. :( 

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Thoughts

Já estou melhor da "colonoscopia"

Bonecos que ando a construir para a minha ventoinha:

 O Murro Trotskista

Bipole!!!

Disorder!!!

Thoughts

Sentado num café qualquer:

Eu se quisesse podia escrever 
o destino das pessoas que me rodeiam.
Não um calculo exacto do que lhes vai acontecer,
mas consigo pensar em todos os mas que os rodeiam,
até se tornarem os tristonhos ses,
das presentes e futuras vidas dos seus seres.

Quem muito planeia, 
muito se queixa.
Quem muito quer viver, 
cedo acaba por morrer.
Quem pensa em sempre se divertir,
acaba por nada se rir.
Quem passa a vida em não querer pensar,
vive a vida toda a raciocinar!


A vida é feita de próximos paradoxos.
Não é para ser sempre vivida nos seus extremos.
Importante sim é conhece-los,
mas não para sempre vive-los!


Não julgues, sem nunca ter vivido.
Não acredites plenamente em tudo o que já tenhas lido.
Não idolatres cegamente uma ilusão. 
Não acredites no valor das coisas que nunca possuíste.

Não penses constantemente em resolver a tua vida,

Já tudo foi escrito, pensado:
a angústia do amor
a angústia da modernização
a angústia da sociedade
a angústia do viver!


Lê, observa, vive e cria a tua forma diferente
não sejas nesta vida um ser inexistente.
Há muito tempo que somos semelhantes,
o medo torna-nos seres angustiantes. 




 

Forma de ser
Se eu te visse
nada te dizia,
a força do meu pensar
nada me deixa falar,
na minha cabeça 
já tudo te disse
e tu nada ouviste!





p.s - "Deja Moo - I've already seen this shit before"

AND NOW FOR SOMETHING COMPLETELY DIFFERENT:

 



domingo, 15 de agosto de 2010

Bipole!!!

Crater Face from Skyler Page on Vimeo.

Disorder!!!

Num futuro próximo perto de si:

MARS! from Joe Bichard and Jack Cunningham on Vimeo.


Senhor Extra-terrestre,
Nós humanos não possuímos qualquer respeito por qualquer tipo de vida que não consiga retaliar militarmente. Mas não se preocupem dentro de uns anos, quando vocês já não existirem, vamos erguer-vos estátuas e assinar uns tratados em vossa memória, que poucos governos vão respeitar e pessoas recordar. Isso ou então se vocês possuírem alguma utilidade - bons animais de companhia, tenham alguma parte do corpo considerada valiosa, consigam atrair multidões - prometemos clonar a vossa espécie impedindo desta forma a vossa extinção. 
Como acontece sempre nestes casos enviaremos uma equipa controlada por 2 ou 3 governos e algumas multinacionais para avaliar melhor a vossa situação. Agradecemos desde já a vossa total colaboração com a equipa por nós enviada.

Saudações Cordiais
A Humanidade

sábado, 14 de agosto de 2010

Thoughts

Aventuras de um marketeer.
Burocracias, leis, Intelectuais, sociedade portuguesa...
Boa tarde, posso ver o seu título de transporte por favor?
- Uma pergunta, o que é que fica mais em conta, uma multa por não ter B.I, ou uma por não ter título de transporte?
- Desculpe?! Olhe mas você está a gozar comigo?
- Sim, estou a provoca-lo de maneira que você se passe da cabeça e agrida a minha pessoa. Afinal a indemnização por agressão física deve cobrir os custos da coima que vossa excelência tão eloquentemente deseja passar-me.
- Olhe não tenho tempo para aturar malucos com a mania que são intelectuais.
- Olhe eu também não, posso-me ir embora e fugir de mim próprio.
- Oiça não é por se estar a armar em chico-esperto que se vai safar.
- Sim diga isso ao Sócrates, «as idéias pertencem a um mundo que somente os sábios conseguem entender».
- Quê!
- Esqueça são trocadilhos mais que trocados, Sócrates o Grego o sábio com Sócrates o Luso o chico-esperto. Onde eu queria chegar é que vivemos num país que incentiva o crescimento do chico-esperto, o moderno sábio português. Por exemplo eu nunca tirei a carta, aprendi a conduzir mais os respectivos sinais necessários para poder circular, fiz isto porque poupo dinheiro na carta e também porque das poucas vezes que conduzo não costumo estar em condições de ir a pé.
- Já vi onde quer chegar, faz isso porque a multa por conduzir sem carta é mais pequena do que a multa por conduzir bêbado.
- Exactamente homem sábio. Mas então como ficamos o que é que é mais barato a multa por andar sem BI ou a multa por não ter bilhete?
- Oiça lá seu inútil, pare de gozar com quem trabalha.
- Isso pergunto-lhe eu a si, você sabe quando ganha um estagiário hoje em dia! Quantas horas trabalho! E nem gosto muito do que faço, então diga-me lá qual é o mais barato, para poder saber se este mês pago as contas da net e telemovél ou se pago as prestações em atraso do crédito bancário contraindo para pagar os estudos, sim nem sequer foi um crédito daqueles "descontraídos" para comprar roupa, carro, portáteis. Você é que está a gozar com quem trabalha! 
- Peço desculpa, mas eu não posso fazer nada, só estou a fazer o meu trabalho.
- Ok, já vi que não vamos a lado nenhum, tome lá o meu BI.
- Obrigado. Então Sr. Muhammad Musashi Bilalli Camões se pagar a multa dentro de....
 

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Thoughts



Isto sim é um prefácio:

O Amante de Lady Chatterley - D. H. Lawrence

Apesar de tudo o que se poderá dizer, declaro que este romance é um livro honesto, são e necessário aos homens de hoje. As palavras que, a princípio, parecem escandalosas, já não escandalizam nada ao fim de um momento. Será porque a nossa inteligência é depravada pelo hábito? De nenhum modo. É simplesmente porque as palavras escandalizavam a nossa vista, mas nunca escandalizaram o nosso espírito. Que as pessoas sem espírito continuem a escandalizar-se: elas não contam. As pessoas de espírito apercebem-se que não estão escandalizadas, que, no, fundo, nunca o estiveram. E experimentam uma sensação de alívio.
Afinal, tudo resiste nisto. Como seres humanos, estamos, actualmente, evoluídos e cultos, muito para lá dos tabus que são inerentes à nossa cultura. É muito importante reconhecer este facto.
Para os homens das Cruzadas, as palavras tinham, sem dúvida, um poder de evocação de que não podemos fazer nenhuma ideia. O poder evocador das palavras supostas obscenas deve ter sido muito perigoso para as natureza simples, obscuras, violentas, da Idade Média; talvez ainda hoje seja muito forte para as naturezas baixas, incompletas, mal evoluídas. Mas uma verdadeira cultura permite-nos somente dar a uma palavra as reacções mentais e imaginativas que pertencem à inteligência e evitar-nos essas reacções físicas, violentas e ilógicas, tão ameaçadoras para a decência social. Outrora, o homem tinha o espírito demasiado fraco ou demasiado cru para considerar o seu corpo e as suas funções corporais sem se embaraçar com mil reacções físicas que não podia dominar.
Já não é assim. A cultura e a civilização ensinaram-nos a separar a palavra do facto, o pensamento do acto, ou das reacções físicas. Sabemos hoje que o acto não segue, necessariamente, o pensamento. Na realidade, pensamento e acção, palavra e facto, são duas formas de consciência, duas actividades que seguimos separadamente. Todos nós temos, muito sinceramente, necessidade de sequência. Mas quando pensamos, não agimos, e quando agimos, não pensamos. A grande necessidade é agir segundo os pensamentos e pensar segundo os actos. Mas, enquanto estamos em pensamento, não podemos verdadeiramente agir; e, enquanto estamos em acção não podemos verdadeiramente pensar. Estas duas condições - pensamento e acção - excluem-se mutuamente. Contundo é preciso que coexistam em harmonia.
E aí está o verdadeiro significado deste livro. Quero que homens e mulheres possam «pensar» as coisas sexuais plenamente, completamente, honestamente, decentemente. Mesmo se não pudermos «agir» sexualmente com plena satisfação, saibamos ao menos «pensar» sexualmente com plenitude e clareza. Todas essas histórias de raparigas virginalmente puras, como uma página onde nada está escrito, não passam de tolices. Uma rapariga e um rapaz são um entrelaçado violento, uma ardente confusão de sentimentos sexuais e de pensamentos sexuais que só o tempo poderá esclarecer. Longos anos passados a pensar honestamente as coisas sexuais, longos anos passados a praticá-las laboriosamente, levar-nos-ão, enfim, aonde queremos chegar, a essa castidade verdadeira e completa, a essa plenitude que apenas é possível se a nossa acção sexual e o nosso pensamento sexual estiverem em harmonia e se uma não for obstáculo para o outro.
Longe de mim o pensamento que todas as mulheres deveriam correr atrás dos seus couteiros e fazê-los seus amantes! Longe de mim o pensamento que deveriam correr atrás de fosse de quem fosse! Muitos homens e mulheres, nos nossos dias, têm tudo a ganhar em abster-se, em manter-se sexualmente sós, completamente puros; e ao mesmo tempo, em conhecer e compreender mais completamente a sexualidade. A nossa época é mais propícia à compreensão que à acção. Houve, sobretudo, demasiada acção sexual, uma fatigante repetição das mesmas coisas, sem pensamento correspondente, sem compreensão. Nos nossos dias, esta compreensão, consciente e completa, é mais importante que a própria acção. Após séculos de trevas, o espírito quer saber, e saber plenamente. O corpo está no fundo, bastante à parte.
Nos nossos dias, quando os homens agem sexualmente, metade do tempo desempenham um papel. Agem em conformidade com o que julgam que se espera deles. Pelo contrário, é na realidade, o espírito que trabalha; e o corpo precisa de ser provocado. A razão é que os nossos antepassados agiram sexualmente com tanta frequência, sem nunca pensarem, nem nada compreenderem, que agora, o acto tende a tornar-se mecanismo enfadonho ilusório, e só uma desempoeirada compreensão mental pode refrescar a aventura.
Em matéria sexual, o espírito está em atraso; a falar verdade, está assim em tudo o que respeita aos actos físicos. Os nossos pensamentos sexuais arrastam-se e rastejam numa obscuridade e num medo secreto, que nos vêm dos nossos rudes antepassados, ainda meio-bestiais. Só neste domínio, o domínio sexual e físico, o nosso espírito não evolui. Precisamos agora de recuperar o tempo perdido e harmonizar a consciência das nossas sensações corporais com essas mesmas sensações, a consciência do acto com o próprio acto e fazê-los viver em bom entendimento. Tal não será possível sem um respeito conveniente pela sexualidade, sem um receio conveniente pela estranha experiência do corpo; tal não será possível sem o livre uso das palavras consideradas obscenas, porque essas palavras fazem naturalmente parte da consciência que o espírito tem do corpo. A obscenidade só aparece se o espírito descobrir e recear o corpo, se o corpo odiar o espírito e lhe resistir.
O caso do Coronel Barker esclarece-nos sobre a extensão do mal. O coronel Barker era uma mulher que se fazia passar por um homem. O «coronel» tinha casado e tinha vivido com a sua mulher num perfeito «entendimento conjugal». E a pobre mulher acreditara sempre que tinha casado normalmente com um verdadeiro homem. A crueldade da sua situação quando foi finalmente desiludida, dispensa todo o comentário. É monstruoso. E contundo, há nos nossos dias, milhares de mulheres prontas a deixar-se enganar de igual modo e a persistir no seu erro. Porquê? Porque não sabem nada, são incapazes de pensar sexualmente. São, nisto, pobres patetas. Vale mais dar este livro a todas as raparigas de dezassete anos.
Passa-se o mesmo com o respeitável mestre-escola e o venerado pastor que, após anos de santidade e de virtude, comparecem no tribunal, aos sessenta e cinco anos, por ultrajes a raparigas. Isto acontece no momento em que o  Ministro do Interior, ele próprio também já velho, pede com grandes gritos e impões um silêncio pudico sobre todos os assuntos sexuais. Como é possivel que a aventura de qualquer outro velho senhor, eminentemente respeitável e «puro», não o faça reflectir?
Mas as coisas estão assim. O espírito conserva, no mais fundo de si, um antigo medo do corpo e do poder do corpo. E é o espírito que importa libertar e civilizar, neste capítulo. O terror que o corpo inspira ao espírito enlouqueceu numerosos homens. A demência de um grande espírito como Swift explica-se, em parte, por esta causa. No poema dirigido à sua amante Célia e que tem como estribilho estas loucas palavras: «Mas... Célia, Célia, Célia evacua», descobrimos o que pode acontecer a uma grande inteligência atingida de pânico. Este homem de tanto espírito era incapaz de ver que se cobria de ridículo. Pois naturalmente Célia evacua! Quem não o faz? E se ela não o fizesse, seria bem pior. Que absurdo! E pensem na pobre Célia humilhada nas suas funções naturais pelo seu «amante»! É monstruoso. E tudo isto é por causa dessas palavras tabus e dessa inconsciência em que deixamos o espírito em matéria física e sexual.
Em contraste com o puritanismo que diz: «chut!» e que produz o imbecil sexual, encontramos a jovem no comboio, emancipada e avançada, que não escuta nenhum «chut» e que «faz o que lhe agrada». Longe de temer o corpo e de negar a sua existência, os jovens avançados caem no outro extremo e tratam-no como uma espécie de brinquedo bom para divertimento; um brinquedo vagamente repugnante, mas de que se pode tirar de um pouco de divertimento antes que nos abandone. Estes jovens riem-se da importância da sexualidade, tratam-na como um cocktail e servem-se dela para zombar dos seus maiores! Avançados, desdenhosos, desprezam um livro como O Amante de Lady Chatterley. Este é demasiado simples e natural para eles. Nele encontram palavras porcas que não lhes interessam, e uma atitude ante o amor que lhes parece antiquada. Para quê tantas histórias? Tomai o amor como um cocktail! Este livro, dizem eles revela uma mentalidade de rapaz de catorze anos, que mantém um pouco de respeito habitual e de receio conveniente ante as coisas sexuais, seja mais sã do que a mentalidade do jovem de cocktails que nada respeita e que nada mais tem, para entreter o espírito, do que brincar com os brinquedos da vida, particularmente com o amor, e que perde o seu espírito no decurso desta brincadeira!
Assim, entre o puritano da velha escola, sempre ameaçado e sucumbir, já serôdio, à indecência sexual; entre a pessoa à moda da nova geração que diz: «Podemos fazer tudo; se queremos pensar numa coisa, podemos fazê-la»; e finalmente, o bárbaro de alma vil e de espírito impuro que procura a indencência, o campo de acção deste livro é muito estreitamente libertado. Mas eu digo-lhes, a todos: «Conservem as vossas perversões, se isso vos consegue dar prazer, as vossas perversões de puritanismo, ou de moderno impudor, ou de simples grosseria. Quanto a mim defendo o meu livro e a minha posição: a vida só é aceitável se o espírito e o corpo viverem em harmonia, se houver um natural equilíbrio entre ambos e sentirem um pelo outro um respeito espontâneo». 


Paris 1929
D.H Lawrence